A forma como olhamos o bebé está a mudar a cada dia que passa... pela equipa @renascer.pt
.... E isso fica claro quando percebemos que existem opiniões totalmente distintas de um mesmo assunto. Estamos numa fase de transição, onde existem duas formas de olhar para a infância - uma que prioriza o vinculo, o contacto e outra que prioriza a independência e a autonomia desde o nascimento.
Os estudos, o contributo da própria Neurociência nos últimos anos tem contribuído em muito para a mudança que agora começamos ver emergir, e é isso mesmo que quero trazer aqui. Hoje, a ciência descreve-nos um bebé que julgávamos perdido na nossa própria evolução. Um bebé que afinal sente e requer tudo aquilo que a sociedade ocidental considera ser desnecessário.
Neste momento, a nível social prioriza-se a Independência e a Autonomia desde o nascimento, promovendo em simultâneo, a libertação da mulher, que deve estar apta para regressar ao trabalho 4 meses após o parto.
Para que este retorno acontecesse de forma tranquila, o bebé deveria estar o menos dependente possível da mãe. Dessa forma, o foco no trabalho e a produtividade aumentariam. Aproveito, neste momento, para salvaguardar que esta não é a visão em que acredito mas a visão pela qual a maternidade se regeu durante anos e que está agora a ser questionada.
No entanto, neste momento, a ciência, a neurociência, as centenas de estudos que temos nas nossas mãos deixam bem claras todas estas questões:
- O bebé humano é dos seres mais imaturos ao nascimento. É o ser que mais necessita dos cuidados maternos nos primeiros meses de vida. Ao contrário de quase todo o reino animal, o bebé humano não consegue locomover-se após algumas horas ou dias do seu nascimento, levando em média 12 meses para o fazer. E esta imaturidade física diz-nos muito sobre a imaturidade cerebral e emocional do próprio bebé.
- O contacto fisico não é apenas “mimo” ou um cuidado extra e “emocional”. O bebé necessita deste contacto proximal com os cuidadores primários para se co-regular emocionalmente, equilibrar níveis de adrenalina e cortisol no seu organismo, regular a sua temperatura corporal, a sua frequência respiratória e cardíaca. O colo, o contacto é o melhor preventivo para o Síndrome de Morte Súbita do Lactente;
- A autonomia e a independência surgem de um contexto onde é permitido que o bebé seja totalmente dependente. Afinal, a natureza não ia errar ao ponto de permitir que a nossa espécie nascesse sem a capacidade de se manter viva sozinha, e ao mesmo tempo ditar que a independência como algo crucial, certo? Uma criança que vê todas as suas necessidades respondidas - desde alimentação, aos cuidados básicos de higiene até ao colo e ao contacto fisico durante o sono - é uma criança que cria em si um conceito muito forte de que está segura e não tem de querer provas disso mesmo a todo instante. Crianças a quem foi permitida esta dependência natural são crianças, futuros adolescentes e adultos mais seguros de si e do mundo;
- Não é apenas o bebé que precisa da mãe. A mãe necessita de igual forma do bebé. Hormonalmente, a mãe está alerta e focada em manter a sua cria viva, garantindo o seu bem-estar. E este hiper-foco estende-se para lá dos 4 meses de licença de maternidade. Por isso, querer que mulheres e recém-mães estejam dedicadas ao trabalho como se não estivessem a passar por este processo fisico, hormonal e emocional que é ser mãe, é uma missão muito difícil de concretizar.
É verdade, tudo o que descrevi aqui parece desconexo com o que se exige hoje. É desconexo com o que ouvimos tantas vezes à nossa volta.
Comentários como “tens de o habituar a dormir sozinho”, “tens de o tornar mais independente”, “não o habitues ao colo” minam a confiança materna em algo visceral - o seu instinto.
E é esse instinto que a ciência tem vindo a comprovar que é importante escutar… pois com o que vemos hoje em dia… ele tem estado certo!
Artigo escrito por Terapeuta do Sono e Educadora Parental Bárbara Palma e Enf. Elisabete Palma @renascer.pt (https://linktr.ee/equiparenascer)