Diversificação alimentar

Diversificação alimentar

 Diversificação alimentar é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o “processo que se inicia quando o aleitamento materno já não é suficiente para colmatar as necessidades nutricionais das crianças” e, assim, “são necessários outros alimentos sólidos e líquidos para além do leite materno”.

 

A diversificação alimentar é necessária quer por razões nutricionais, quer por razões de desenvolvimento e é uma fase importante na transição do aleitamento materno para a alimentação da família.

 

A OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, após os quais deverá iniciar a diversificação alimentar, idealmente, mantendo o aleitamento materno.

 

A altura certa para iniciar a diversificação alimentar

A maturação fisiológica da função renal e gastrointestinal é necessária para uma adequada digestão, absorção e metabolização de outros alimentos para além do leite. Esta surge por volta dos 4 meses, sendo que a maturação gastrointestinal é também desencadeada pelos alimentos ingeridos. Para além da parte renal e gastrointestinal, o neurodesenvolvimento é também fundamental e, por esta razão, a criança tem de ter adquirido determinadas capacidades motoras que lhe permitam ingerir de forma segura alimentos sólidos.

 

Aos 4 meses, a estabilidade maxilar e do pescoço do lactente é maior e o padrão primitivo da sucção começa a modificar-se.

 

Entre os 5 e os 8 meses, o lactente adquire, progressivamente, a capacidade de mastigação, devendo este processo ser estimulado de modo a facilitar a integração na alimentação familiar.

 

Há um período crítico para a introdução de sólidos na alimentação do lactente. Se esta não ocorrer até aos 10 meses aumentará o risco de dificuldades na alimentação com impacto negativo nos hábitos dietéticos em idades posteriores.

 

 

A diversificação alimentar

Tal como foi referido, a partir dos 6 meses, é mais difícil para os lactentes atingirem as suas necessidades nutricionais apenas através do leite, nomeadamente em energia, proteínas, ferro, zinco e algumas vitaminas lipossolúveis (A e D).

 

A introdução dos diferentes alimentos não pode ser rígida e deverá ter em conta diversos fatores, nomeadamente os costumes de cada região, as condições socioeconómicas e as características da criança.

 

Os nossos comportamentos alimentares advêm de milhões de anos de evolução e programação genética. Os lactentes nascem com um gosto inato para o doce e uma aversão ao amargo, sendo que a preferência pelo salgado se desenvolve a partir do segundo semestre de vida, atingindo o seu pico pelos 3-4 anos. A exposição mais precoce aumenta o interesse pelo sabor.

 

A sensibilidade ao sabor ácido tem uma base hereditária, por outro lado, a sensibilidade ao sabor salgado parece depender mais de fatores ambientais de exposição.

 

A introdução do glúten deve ser feita entre os 4 e os 6 meses, devendo ser realizada de forma gradual. As papas de cereais poderão ser lácteas, para preparar com água, ou não lácteas, para preparar com o leite do lactente. Habitualmente, deverá fazer 1 refeição de papa, com cerca de 30-50g de farinha.

 

Considerando que o sabor doce é inato e não é necessário treiná-lo, é importante estimular o paladar para os sabores não doces, pelo que cada vez mais se opta por iniciar a diversificação com um puré de legumes. Este, numa fase inicial, poderá conter batata, cenoura e abóbora e, progressivamente, a mãe ou o cuidador principal vai introduzindo outros legumes, com intervalos de 3 a 5 dias, como a cebola, alho, alho francês, alface, courgette, brócolo ou couve branca. A sopa só deverá conter 4 a 5 alimentos diferentes. O espinafre, nabo, nabiça, beterraba e o aipo só devem ser introduzidos a partir dos 12 meses. Considerando a ausência de gordura destes alimentos, a cada dose de puré de legumes deverão ser adicionados 5-7,5 ml de azeite cru no final da confeção.

 

A introdução da proteína animal (carne e peixe) deve iniciar-se aos 6 meses, no puré de legumes, em porções de 10g, com aumento gradual até atingir cerca de 25-30g (equivalente a 1 colher de sopa/dia) de carne ou peixe. A dose de proteína poderá ser oferecida toda numa refeição ou divida pelas duas refeições principais. Inicialmente, deverá introduzir carne de frango, peru ou coelho e, só depois, o peixe (inicialmente introduzir peixes magros), que deverá ser pescada, linguado, solha ou faneca. O salmão deverá ser introduzido a partir dos 10-12 meses pelo seu elevado teor em gordura e em pequenas porções (cerca de 15g em cada dose). Estão recomendadas 4 refeições de carne por semana e 3 de peixe.

 

Note que a nenhuma das refeições deverá ser adicionado sal.

 

A textura das refeições deverá ser progressivamente menos homogénea, de forma a estimular o movimento da mastigação.

 

A gema poderá ser introduzida, de forma gradual, a partir dos 9 meses, sendo recomendada a sua ingestão cerca de 2 a 3 vezes por semana. A utilização de gema numa refeição substitui qualquer outra fonte de proteína animal, carne ou peixe. A clara poderá ser introduzida a partir dos 11 meses.

 

Os frutos são importantes fontes de vitaminas, minerais e fibra. Os frutos ricos em vitamina C, se forem consumidos em simultâneo com legumes ricos em ferro (feijão, lentilha, agrião, salsa...) ou cereais, aumentam a absorção de ferro. Os frutos podem ser introduzidos por volta dos 6 meses. A maçã, a pera (cozidas, assadas ou em vapor) e a banana (esmagada) são habitualmente os primeiros frutos a serem introduzidos. Estes alimentos devem ser oferecidos individualmente de forma a permitir o treino do paladar.

 

As leguminosas secas, nomeadamente o feijão, a ervilha, a fava, a lentilha e o grão, poderão ser introduzidas por volta dos 9-11 meses de idade, sempre previamente demolhadas e, inicialmente, sem casca e em pequenas porções.

 

O pão poderá ser oferecido por volta dos 7 meses sob a forma de açorda com a carne ou o peixe. Aos 8 meses poder-se-á oferecer pão em pequenas quantidades para treino da mastigação.

 

O iogurte pode ser introduzido por volta dos 9 meses, num lanche, em substituição do leite ou papa. Deve ser natural, sem aroma, sem adição de açúcar (adocicados) ou natas (cremoso). O iogurte poderá ser adicionado a fruta fresca.

 

Passo a passo e ao seu ritmo, o seu bebé irá ficando familiarizado com os diferentes sabores e texturas, facilitando as refeições. Deixe-o explorar os alimentos com as mãos sempre que possível. Faça as refeições em família de forma a que ele comece a associar a alimentação a um momento agradável, de conexão e sociabilização. E sempre que ele rejeitar um alimento, não desista e volte a tentar mais tarde.

 

Tem alguma dúvida sobre esta fase de desenvolvimento do seu bebé? 

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